sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Concepções erradas sobre a teoria da evolução e processos evolutivos #1




CONCEPÇÃO ERRADA: A evolução é uma teoria sobre a origem da vida

CORRECÇÃO: De facto, a teoria da evolução inclui ideias e evidências relacionadas com a origem da vida (por ex., se ocorreu ou não próximo de uma fonte hidrotermal oceânica, a grande profundidade, que molécula orgânica surgiu primeiro, etc.) mas este não é o tópico central da teoriaa da evolução. 

A maior parte dos biólogos evolutivos estuda a forma como a vida terá mudado depois da sua origem. Independentemente de como a vida começou, depois ramificou-se e diversificou-se, e a maior parte dos estudos sobre evolução focam-se nesses processos.

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CONCEPÇÃO ERRADA: A teoria da evolução implica que a vida tenha evoluído (e continue a evoluir) de forma aleatória, ou ao acaso

CORRECÇÃO: A sorte e o acasoa influenciam a evolução e a história da vida de maneiras muito diferentes; no entanto, alguns mecanismos evolutivos importantes são não-aleatórios e estes tornam todo o processo não-aleatório. 

Por exemplo, considere-se o processo de selecção naturala, que resulta em adaptaçõesa - características dos organismos que parecem adequar-se ao ambiente em que ele vive (por ex., a adequação entre a flor e o seu polinizador, a coordenação da resposta imunitária contra agentes patogénicos e a capacidade de ecolocalização dos morcegos). Estas incríveis adaptações claramente não aconteceram “por acaso”. Elas evoluíram através de uma combinação de processos aleatórios e não-aleatórios. 

O processo de mutaçãoa, que gera variação genéticaa, é aleatório, mas a selecção é não-aleatória. A selecção favoreceu variantes mais capazes de sobreviver e se reproduzirem (por ex., para ser polinizado, para se defender de agentes patogénicos ou de se orientar no escuro). Ao longo de muitas gerações de mutações aleatórias e selecção não-aleatória, evoluíram adaptações complexas. Dizer que a evolução acontece “por acaso” é ignorar metade da história.

Para aprender mais sobre selecção natural, veja o artigo sobre esse tópico [em inglês] ou esta publicação. Para aprender mais sobre mutações aleatórias, veja o artigo sobre ADN e mutações [em inglês].

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CONCEPÇÃO ERRADA: A evolução resulta no progresso; através da evolução, os organismos estão continuamente a aperfeiçoar-se

CORRECÇÃO: Um importante mecanismo evolutivo, selecção natural, resulta na evolução de aptidões de sobrevivência e reprodução melhoradas; no entanto, isto não significa que a evolução é progressiva - por variadas razões. 

Primeiro, conforme irá ser descrito na correcção da concepção errada ‘A selecção natural produz organismos que estão perfeitamente adaptados ao seu ambiente’, a selecção natural não produz organismos perfeitamente adaptados ao seu ambiente. Muitas vezes permite a sobrevivência de indivíduos com uma pluralidade de características - indivíduos que são “suficientemente bons” para sobreviver. Logo, não são sempre necessárias alterações evolutivas para que uma espécie persista. Muitos taxaa (como musgos, fungos, tubarões, didelfimorfos [mamíferos marsupiais americanos, da ordem Didelphimorphia] e lagostins) mudaram pouco fisicamente ao longe de grandes extensões de tempo. 

Segundo, há outros mecanismos evolutivos que não causam alterações adaptativas. Mutaçãoa, migraçãoa e deriva genéticaa podem levar a que populações evoluam de maneiras que são largamente prejudiciais ou que as torna menos adaptadas ao seu ambiente. Por exemplo, a população Africander da África do Sul tem uma frequência anormalmente elevada do variante genético que causa a doença de Huntington porque este terá aumentado em frequências, por deriva genética, à medida que a população cresceu, a partir de uma pequena população fundadora. 

Finalmente, a noção de “progresso” não faz sentido quando falamos de evolução. Alterações climáticas, mudanças de caudais de rios, invasões de novos competidores - e um organismo com uma característica que é benéfica numa situação pode estar mal equipado para sobreviver quando o ambiente muda. E mesmo que nos focássemos num único ambiente e habitat, a ideia de como medir o “progresso” é enviesada pela perspectiva do observador. Da perspectiva de uma planta, a melhor medida de progresso pode ser a capacidade de realizar a fotossíntese; de uma aranha, pode ser a eficiência de um sistema de transferência de veneno; de um humano, a capacidade cognitiva. 

É tentador ver a evolução como uma grande escada progressiva, com o Homo sapiens a emergir no seu topo. Mas a evolução produz uma árvore, não uma escada - e nós somos apenas um de muitos ramos nessa árvore.

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CONCEPÇÃO ERRADA: Os organismos podem evoluir durante o seu tempo de vida

CORRECÇÃO: A definição de alterações evolutivas baseia-se em alterações no património genético das populações ao longo do tempo. São as populações, e não os indivíduos, que mudam. Alterações que ocorrem num indivíduo durante o seu tempo de vida podem ser de desenvolvimentoa (por ex., um macho de uma ave a quem cresce uma plumagem mais colorida quando atinge a maturação sexual) ou podem ser causadas pela forma como o ambiente afecta um organismo (por ex., uma ave que perde penas porque está infectada por parasitas); no entanto, estas mudanças não são causadas por alterações nos genesa

Apesar de ser útil haver uma forma das alterações ambientais causarem alterações adaptativas nos nossos genes - quem não gostaria de ter um variante genético de resistência à malária quando fosse de férias para Moçambique? - a evolução não funciona dessa forma. 

Novos variantes genéticos (ou seja, alelosa) são produzidos por mutações aleatórias e, ao longo de muitas gerações, a selecção natural pode favorecer variantes vantajosos, levando a que estes se tornem mais comuns na população.

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CONCEPÇÃO ERRADA: A evolução apenas ocorre de forma lenta e gradual

CORRECÇÃO: A evolução ocorre de forma lenta e gradual mas também pode ocorrer rapidamente. Temos vários exemplos de evolução lenta e gradual - por exemplo, a evolução gradual das baleias a partir do seu mamífero terrestre ancestral, como documentado no registo fóssil. Mas também sabemos de muitos casos em que a mutação ocorreu rapidamente. Por exemplo, temos um registo fóssil detalhado que mostra como algumas espécies de organismos unicelulares, chamados foraminídeos, evoluíram novas formas num piscar de olhos geológico, como se mostra abaixo.  


















[eixo do y: anos, em milhares de anos; eixo do x: forma da concha de foraminídeos; seta: período de evolução rápida]


 Da mesma forma, podemos observar episódios de evolução rápida a acontecer ao nosso redor todo o tempo. Ao longo dos últimos 50 anos, observámos esquilos a evoluir novas épocas reprodutivas em resposta a alterações climáticas, uma espécie de peixe a evoluir resistência a toxinas despejadas ilegalmente no rio Hudson e uma série de micróbios a evoluir resistência a novos medicamentos que desenvolvemos. Diversos factores podem favorecer a evolução rápida - populações de pequeno tamanho, tempos de geração curtos, grandes mudanças nas condições ambientais - e as evidências deixam claro que isto já aconteceu várias vezes. 

Para aprender mais sobre o ritmo da evolução, veja o separador Evolution 101 [em inglês].

Para aprender mais sobre evolução rápida em resposta a alterações ambientais causadas pelos humanos, veja a notícia sobre alterações climáticas [em inglês], a reportagem sobre evolução de peixes resistentes ao PCB [em inglês], ou o perfil de um investigador sobre a evolução do tamanho dos peixes em resposta às práticas pesqueiras [em inglês].



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a Definição no Glossário.

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